quinta-feira, 24 de outubro de 2013

SÃO FRANCISCO DE ASSIS

São Francisco de Assis
Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como São Francisco de Assis, foi um frade católico da Itália. Depois de uma juventude irrequieta e mundana, voltou-se para uma vida religiosa de completa pobreza, fundando a ordem mendicante dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos, que renovaram o Catolicismo de seu tempo. Sua posição como um dos grandes santos da Cristandade se firmou quando ele ainda era vivo, e permanece inabalada. Foi canonizado pela Igreja Católica menos de dois anos após falecer, em 1228, e por seu apreço à natureza é mundialmente conhecido como o santo patrono dos animais.






A vida de São Francisco de Assis

Francisco nasceu em Assis, cidade de Úmbria, no ano 1182. Nascimento e vida familiar de um cavaleiro.

Seu pai, Pedro Bernardone, era comerciante. O nome de sua mãe era Pia e alguns autores afirmam que pertencia a uma nobre família da Provença. Tanto o pai como a mãe de Francisco eram pessoas ricas. Pedro Bernardone comerciava especialmente na França. Como muitos falavam nisso quando nasceu seu filho, as pessoas lhe apelidara "Francesco" (em francês), por mais que no batismo recebeu o nome de João. Em sua juventude, Francisco era muito dado as românticas tradições cavalerescas que propagavam os trovadores. Dispunha de dinheiro em abundância e o gastava prodigamente, com ostentação.

Nem os negócios de seu pai, nem os estudos lhe interessavam muito, mas sim o divertir-se em coisas vãs que comumente se chama "gozar da vida". Sem dúvida, não era de costumes licenciosos e costumava ser muito generoso com os pobres que lhe pediam por amor de Deus.

Alegre, esbanjador, mas temente a Deus

Nada sabemos da infância do Santo. Na Legenda de São Francisco (ou Dos Três Amigos), escrita por três de seus primeiros discípulos, lemos: “— Já crescido, como era dotado de inteligência viva, dispôs-se a continuar o ofício paterno, isto é, a mercancia, porém com outros entendimentos, pois ele era muito mais alegre e liberal do que o pai: gostava de andar em festiva companhia, quer durante o dia quer durante a noite, pelas estradas de Assis, em divertimentos e cantos, e era tão grande esbanjador, que gastava em reuniões e banquetes tudo quanto ganhava”. Ao que acrescenta São Boaventura, terceiro geral dos franciscanos, contemporâneo e póstero do Poverello: “Mas, com o auxílio divino, jamais se deixou levar pelo ardor das paixões que dominavam os jovens de sua companhia”.

O próprio Francisco confessa: “— Eu verdadeiramente creio nunca haver, por graça de Deus, cometido falta sem ter feito disso expiação, confessando o meu pecado e arrependendo-me da minha culpa”.

Alegre, jovial, desprendido, gentil, afável, “— o Senhor incutia em seu coração um sentimento de piedade que o tornava generoso com os pobres. Este sentimento foi crescendo em seu coração; e impregnou-o de tanta bondade, que ele decidiu, como ouvinte atento que era do Evangelho, ser generoso com quem lhe pedisse esmola, sobretudo a quem pedisse por amor de Deus”, de modo a dar até parte de seu vestuário, se não tivesse mais dinheiro.

A popularidade que Francisco adquirira até então entre seus conterrâneos devia-se mais às suas qualidades morais que às físicas, pois “— era pequeno e de aspecto miserável”, atraindo pouco a atenção daqueles que não o conheciam.

Acha de um tesouro

Quando Francisco tinha uns vinte anos, iniciou a discórdia entre as cidades de Perugia e Assis e na guerra, o jovem caiu prisioneiro. A prisão durou um ano, e Francisco a suportou alegremente. Sem dúvida, quando refez a liberdade, caiu gravemente enfermo. A enfermidade, na que o jovem provou uma vez mais seu paciência, fortaleceu e madurou seu espírito. Quando se sentiu com forças suficientes, determinou ir a combater no exército de Galterio e Briena no sul de Itália. Com esse fim, se comprou uma custosa armadura e um lindo manto. Mas um dia em que passeava ataviado com seu novo traje, se topou com um cavaleiro mal vestido que havia caído na pobreza; movido à compaixão ante aquele infortúnio, Francisco mudou seus ricas roupas pelos de cavaleiro pobre. Essa noite viu em sonhos um esplendido palácio com salas cheias de armas, sobre as qual é se tinha gravado o sinal da cruz e lhe pareceu ouvir uma voz que lhe dizia que essas armas lhe pertenciam e a seus soldados.

Francisco partiu a Apulia com a alma ligeira e a seguridade de triunfar, mas nunca chegou ao frente de batalha. Em Espoleto, cidade de caminho de Assis a Roma, caiu novamente enfermo e, durante a enfermidade, ouviu uma voz celestial que lhe exortavam a "servir ao amo e no ao servo". O jovem obedeceu. Ao principio voltou a sua antiga vida, ainda que a tomando menos a ligeira. As pessoas, ao vê-lo silencioso, lhe diziam que estava enamorado. "Sim", replicava Francisco, "vou casar-me com uma jovem mais bela e mais formosa que todas as que conheceis". Pouco a pouco, com a muita oração, foi concebido o desejo de vender todos seus bem é e comprar a pérola preciosa de que fala o Evangelho. Ainda ignorava o que tinha que fazer para elo, uma serie de claras inspirações sobrenaturais lhe fez compreender que a batalha espiritual começa pela mortificação e a vitória sobre os instintos. Passando em certa ocasião a cavalo pela vila de Assis, encontrou a um leproso. As chagas de mendigo aterrorizaram a Francisco; mas, em vez de fugir, se acercou ao leproso, que lhe estendia a mão para receber uma esmola. Francisco compreendeu que havia chegado o momento de dar o passo ao amor radical de Deus. A pesar de seu repulsa natural ao leproso, venceu seu vontade, se lhe acercou e lhe deu um beijo. Aquilo mudou sua vida. Foi um gesto movido pelo espírito Santo, pedindo a Francisco uma qualidade de entrega, um "sim" que distingue aos santos dos medíocres. "Francisco, repara minha Igreja, pois e a vês que está em ruínas". Muito depois, em seu leito morte, ele recordou o encontro como o momento de coroamento de sua conversão: "O que antes parecia amargo pra mim se converteu em doçura de alma e corpo".

A partir de então, começou a visitar e servir aos enfermos nos hospitais. Algumas vezes presenteava aos pobres seus vestidos, outras, o dinheiro que levava. Em certa ocasião, enquanto orava na Igreja de São Damião nas aforas de Assis, lhe pareceu que o crucifixo (hoje chamado crucifixo de São Damião) lhe repetia três vezes: "Francisco, repara minha casa, pois olhas que está em ruínas". O santo, vendo que a Igreja se achava em muito mal estado, crendo que o Senhor queria que a reparasse; assim, pois, partiu imediatamente, tomou uma boa quantidade de vestidos da tenda de seu pai e os vendeu junto com seu cavalo. Em seguida levou o dinheiro ao pobre sacerdote que se encarregava da Igreja de São Damião, e lhe pediu permissão de estar e viver com ele. O bom sacerdote consentiu em que Francisco ficasse com ele, mas se negou a aceitar o dinheiro.

O jovem o depositou na janela. Pedro Bernardone, ao inteirar-se do que havia feito seu filho, se dirige indignado a São Damião.

Mas Francisco havia tido cuidado de ocultar-se.

Renuncia a herança de seu pai

Ao cabo de alguns dias passados em oração e jejum, Francisco voltou a entrar no povoado, mas estava tão desfigurado e mal vestido, que as pessoas riam dele como se fosse um louco. Pedro Bernardone, muito desconcertado pela conduta de seu filho, lhe conduziu a sua casa, lhe golpeou furiosamente (Francisco tinha então vinte e cinco anos), lhe pôs correntes nos pés e lhe encerrou em uma casa. A mãe de Francisco se encarregou de pô-lo em liberdade quando seu marido se achava ausente e o jovem retornou a São Damião. Seu pai foi de novo buscá-lo ali, lhe golpeou na cabeça e lhe mandou voltar imediatamente a sua casa ou a renunciar a sua herança e pagar o preço das roupas que lhe havia tomado. Francisco no teve dificuldade alguma em renunciar a herança, mas disse a seu pai que o dinheiro das roupas pertencia a Deus e aos pobres. Seu pai lhe obrigou a comparecer ante o Bispo Guido de Assis, quem exortou ao jovem a devolver o dinheiro e a ter confiança em Deus: "Deus não deseja que sua Igreja aproveite de bens que são injustamente adquiridos".

Francisco obedeceu à ordem do Bispo e acrescentou: "As roupas que levo pertencem também a meu pai, tenho que devolve-los". Em seguida se desnudou e entregou suas roupas a seu pai, dizendo-lhe alegremente: "até agora tu tem sido meu pai na terra, mas em adiante poderei dizer: Pai nosso, que estás nos céus."' Pedro Bernardone abandonou o palácio episcopal "tremendo de indignação e profundamente aborrecido". O Bispo regalou a Francisco um velho vestido de lavrador, que pertencia a um de seus servos. Francisco recebeu a primeira esmola de sua vida com grande agradecimento, traçou a sinal da cruz sobre a roupa e se o foi.

Chamado a renuncia e a negação

Em seguida, partiu em busca de um lugar conveniente para ficar. Ia cantando alegremente as glórias divinas pelo caminho, quando topou com uns bandoleiros que lhe perguntaram quem era. O respondeu: "Sou o arauto de um grande Rei". Os bandoleiros lhe golpearam e lhe atiraram em um fosso coberto de neve. Francisco prosseguiu seu caminho cantando as divinas glórias. Em um monastério obteve esmola e trabalho como se fosse um mendigo. Quando chegou a Gubbio, uma pessoa que lhe conhecia lhe levou a sua casa e lhe deu uma túnica, um cinturão e umas sandálias de peregrino. Para reparar a Igreja, foi a pedir esmola em Assis, donde todos lhe haviam conhecido rico e, naturalmente, houve de suportar as brincadeiras e o desprezo de mais de um mal intencionado. O mesmo se encarregou de transportar as pedras que faziam falta para reparar a Igreja e ajudou no trabalho. Uma vez terminadas as reparações na Igreja de São Damião, Francisco empreendeu um trabalho semelhante na antiga Igreja de São Pedro.

Depois, se trasladou a uma capela chamada Porciúncula, que pertencia à abadia beneditina de Monte Subasio. Provavelmente o nome da capela aludia ao feito de que estava construída em uma reduzida parcela de terra. A Porciúncula se achava a uns quatros kilômetros de Assis e, naquela época, estava abandonada e quase em ruínas. A tranqüilidade do lugar agradou a Francisco tanto como o titulo de Nossa Senhora dos Anjos, em cuja honra havia sido erigida à capela. Francisco a reparou e fixou nela sua residência. Ali lhe mostrou finalmente o céu o que esperava por ele, no dia da festa de São Matias de ano 1209. Naquela época, o evangelho da Missa da festa dizia: "Ide a pregar, dizendo: o Reino de Deus tinha chegado. Dai gratuitamente o que haveis recebido gratuitamente. Não possuas ouro, nem duas túnicas, nem sandálias. Aqui que vos envio como Cordeiros em meio dos lobos". Estas palavras penetraram até o mais profundo no coração de Francisco e este, aplicando-as literalmente, tirou seus sandálias, e seu cinturão e ficou somente com a pobre túnica cingida com um cordão. Tal foi o hábito que deu a seus irmãos um ano mais tarde: a túnica de lã dos pastores e camponeses da região. Vestido dessa forma começou a exortar a penitência com tal energia, que suas palavras enchiam os corações de seus ouvintes. Quando se topava com alguém no caminho, lhe saudava com estas palavras: "A paz de Senhor seja contigo".

Dons Extraordinários

Deus lhe havia concedido e a o dom de profecia e o dom de milagres. Quando pedia esmola para reparar a Igreja de São Damião, costumava dizer: "ajudai-me a terminar esta Igreja. um dia haverá ali um convento de religiosas em cujo bom nome se glorificarão o Senhor e a universal Igreja".

A profecia se verificou cinco anos mais tarde em Santa Clara e seus religiosas. Um habitante de Espoleto sofria de um câncer que lhe havia desfigurado horrivelmente o rosto. Em certa ocasião, ao cruzar com São Francisco, o homem tentou jogar-se a seus pés, mas o santo teve piedade e lhe beijou no rosto. O enfermo ficou instantaneamente curado. São Boas Ventura comentava a este propósito: "Não se há, que admirar mais o beijo ou o milagre ".

Fundação dos Frades Menores

“Como outro Elias, começou Francisco a anunciar a verdade, no pleno ardor do Espírito de Cristo. Convidou outros a se associarem a ele na busca da perfeita santidade, insistindo para que levassem uma vida de penitência. Começaram alguns a praticar a penitência, e em seguida se associaram a ele, partilhando a mesma vida, usando vestes vis. O humilde Francisco decidiu que eles se chamariam Frades Menores”.

Surgiram assim os primeiros 12 discípulos que, segundo registram os Fioretti, “foram homens de tão grande santidade que, desde os Apóstolos até hoje, não viu o mundo homens tão maravilhosos e santos”. “Aqueles que vinham abraçar esta vida distribuíam aos pobres tudo o que tinham. Contentavam-se só com uma túnica, uma corda e um par de calções, e não queriam mais”, dirá mais tarde Francisco em seu Testamento.

Os novos apóstolos reuniram-se em torno da pequena igreja da Porciúncula, ou Santa Maria dos Anjos, que passou a ser o berço da Ordem.


Nova ordem religiosa e visita ao Papa

Francisco teve numerosos seguidores e alguns queriam fazer se discípulos seus. O primeiro discípulo foi Bernardo de Quintavale, um rico comerciante de Assis. Ao principio Bernardo via com curiosidade a evolução de Francisco e com freqüência lhe visitava a sua casa, donde lhe tinha sempre preparado um leito. Bernardo se fingia dormido para observar como o servo de Deus se levantava silenciosamente e passava largo tempo em oração, repetindo estas palavras: "Meu Deus e meu tudo". Ao fim, compreendeu que Francisco era "verdadeiramente um homem de Deus e em seguida lhe suplicou que lhe admitisse como discípulo. Desde então, juntos assistiam a Missa e estudavam a Sagrada Escritura para conhecer a vontade de Deus. Como as indicações da Bíblia concordavam com seus propósitos, Bernardo vendeu quanto tinha e repartiu o produto entre os pobres. Pedro de Cataneo, cônego da catedral de Assis, pediu também a Francisco que lhe admitisse como discípulo e o santo lhes "concedeu o hábito" aos dois juntos, o 16 de abril de 1209.

O terceiro companheiro de São Francisco foi o irmão Gil, famoso por seu grande sensatez e sabedoria espiritual. Em 1210, quando o grupo contava e a com doze membros, Francisco relatou uma regra breve e informal que consistia principalmente nos conselhos evangélicos para alcançar a perfeição.

Com ela se foram a Roma apresentá-la para aprovação de Sumo Pontífice. Viajaram a pé, cantando e rezando, cheios de felicidade, e vivendo das esmolas que as gentes lhes davam. Em Roma não queriam aprovar esta comunidade porque lhes parecia demasiado rígida quanto a pobreza, mas ao fim um cardeal disse: "Não lhes podemos proibir que vivam como mandou Cristo no evangelho". Receberam a aprovação, e voltaram a Assis a viver em pobreza, em oração, em santa alegria e grande fraternidade, junto a Igreja da Porciúncula.

Inocêncio III se mostrou adverso ao principio. Por outra parte, muitos cardeais opinavam que as ordens religiosas e a existentes necessitavam de reforma, não de multiplicação e que a nova maneira de conceber a pobreza era impraticável. O cardeal João Colonna achegou em favor de Francisco que sua regra expressava os mesmos conselhos com que o Evangelho exortavam a perfeição. Mais tarde, o Papa relatou a seu sobrinho, quem a sua vez o comunicou a São boa ventura, que havia visto em sonhos uma palmeira que crescia rapidamente e depois, havia visto a Francisco sustentando com seu corpo a basílica que estava a ponto de cair. Cinco anos depois, o mesmo Pontífice teria um sonho semelhante a propósito de Santo Domingo. Inocêncio III mandou, pois, chamar a Francisco e aprovou verbalmente sua regra; em seguida lhe impôs o corte dos cabelos, assim como aos seus companheiros e lhes deu por missão pregar a penitência.

A Porciúncula

São Francisco e seus companheiros se mudaram provisoriamente a uma cabana, fora de Assis, de donde saiam a pregar por toda a região. Pouco depois, tiveram dificuldades com um camponês que reclamava a cabana para usa-la como estábulo de seu asno. Francisco respondeu: " Deus não nos tinha chamado a preparar estábulos para os asnos", e em seguida abandonou o lugar e partiu para ver o abade de Monte Subasio. Em 1212, o abade deu a Francisco a capela da Porciúncula, na condição de que a conservasse sempre como a Igreja principal da nova ordem. O santo se negou a aceitar a propriedade da capela e apenas a admitiu emprestada. Em prova de que a Porciúncula continuava como propriedade dos beneditinos, Francisco lhes enviava cada ano, a maneira de recompensa pelo préstimo, uma cesta de pescados colhidos no riacho vizinho. Por seu parte, os beneditinos correspondiam enviando-lhe um tonel de azeite.

Ao redor da Porciúncula, os frades construíram várias cabanas primitivas, porque São Francisco não permitia que a ordem em geral e os conventos em particular, possuíssem bens temporais. Havia feito da pobreza o fundamento de sua ordem e seu amor a pobreza se manifestava em sua maneira de vestir-se, nos utensílios que usava em cada um de seus atos. Costumava chamar a seu corpo "o irmão asno", porque o considerava como feito para transportar carga, para receber golpes e para comer pouco e mal.

Quando via ocioso a algum frade, lhe chamava "irmão mosca" porque em vez de cooperar com os demais atrapalhava o trabalho dos outros.

Pouco antes de morrer, considerando que o homem está obrigado a tratar com caridade a seu corpo, Francisco pediu perdão ao seu corpo por ter o tratado talvez com demasiado rigor. O santo se havia oposto sempre as austeridades indiscretas e exageradas. Em certa ocasião, vendo que um frade havia perdido o sono por causa de excessivo jejum, Francisco lhe levou alimento e comeu com ele para que se sentisse menos mortificado.

Espírito e força de Elias

Certa noite os frades viram um carro de fogo de um esplendor maravilhoso, com um globo brilhante, parecido com o sol, entrar pelo aposento em que estavam, dando três voltas no recinto. Compreenderam que Deus quisera mostrar-lhes, por aquela figura, “que seu pai Francisco viera ‘no espírito e na força de Elias’. Desde então [Francisco] penetrava os segredos de seus corações, predizia o futuro e realizava milagres. Estava patente para todos que o espírito de Elias, duas vezes mais poderoso, viera habitar nele com tal plenitude, que o mais seguro para todos era seguir sua vida e ensinamentos”.

Francisco manifestava seu amor a Deus por uma alegria imensa, que se expressava muitas vezes em cânticos ardorosos. A quem lhe perguntava qual a razão de tal alegria, respondia que “ela deriva da pureza do coração e da constância na oração”. 
Essa divina loucura da cruz, que assomou Francisco e lhe angariou muitos discípulos, devia atrair também uma jovem, filha do Conde de Sasso Rosso, Clara, de 17 anos. Desde o momento em que ouviu o Pobrezinho pregar, compreendeu que a vida que ele indicava era a que Deus queria para ela. Francisco tornou-se seu guia e pai espiritual de sua alma.

Como os pais tinham outros planos para Clara, foi preciso que ela fugisse para a igrejinha da Porciúncula, onde Francisco cortou-lhe os cabelos e fê-la vestir um simples hábito. Nascia assim a Ordem Segunda dos Franciscanos, a das Clarissas. Duas semanas depois, Inês, irmã de Clara, a seguia no claustro, e mais tarde uma terceira, Beatriz.

Não desprezar os ricos

Apesar de pregar sobretudo aos pobres e com eles identificar-se, “Francisco tinha o hábito de alertar seus discípulos, exortando-os a não condenar e não desprezar ‘aqueles que viviam na opulência e vestiam com luxo’. Dizia que ‘também esses têm a Deus por senhor, e que Deus pode, quando quer, chamá-los, como aos outros, e torná-los justos e santos’”. Um desses nobres deu ao Poverello o Monte Alverne, onde ele receberia a maior graça de sua vida.

Encontro de dois homens providenciais

Em 1217, indo a Roma, Francisco encontrou-se com outro luminar da Igreja da época, Domingos de Gusmão, que também havia fundado uma Ordem religiosa para combater a decadência dos costumes. Os dois santos se abraçaram, estabelecendo uma amizade solidificada pelo amor de Deus.

Pouco depois Francisco recebia em sua Ordem um dos que seriam sua maior glória e se tornaria um dos santos mais populares do mundo, Frei Antônio de Lisboa — mais tarde, também “— de Pádua”.

Deus lhe outorga sabedoria

A principio de sua conversão, vendo se atacado de violentas tentações de impureza, saia a deitar-se desnudo sobre a neve. Certa vez em que a tentação foi todavia mais violenta que de costume, o santo se disciplinou furiosamente; como isso não bastasse para acabar com ela, acabou por rolar sobre as sarças e os abrolhos. Sua humildade não consistia simplesmente em um desprezo sentimental de si mesmo, mas sim na convicção de que "ante os olhos de Deus o homem vale pelo que é e não mais". Considerando se indigno do sacerdócio, Francisco apenas chegou a receber o diaconato.

Detestava de todo coração as singularidades. Assim quando lhe contaram que um dos frades era tão amante do silêncio que apenas se confessava por sinais, respondeu com desgosto: "Isso não procede do Espírito de Deus mas sim do demônio; é uma tentação e não um ato de virtude ". Deus iluminava a inteligência de seu servo com uma luz de sabedoria que não se encontra nos livros. Quando certo frade lhe pediu permissão de estudar, Francisco lhe contestou que, se repetisse devoção o "glória Patri", chegaria a ser sábio aos olhos de Deus e ele mesmo era o melhor exemplo da sabedoria adquirida dessa forma.

Com os Animais

A proximidade de Francisco com a natureza sempre foi a faceta mais conhecida deste santo. Seu amor universalista abrangia toda a Criação, e simbolizava pra muitos um retorno a um estado de inocência, como Adão e Eva no Jardim do Éden. Entretanto, esta não foi uma característica apenas de Francisco, havendo casos semelhantes de santos ingleses e irlandeses. Muitas histórias com animais cercam a vida de Francisco de Assis. Elas estão contadas no Fioretti (pequenas flores, em italiano), uma coleção póstuma de contos populares sobre este santo. Certa vez ele viajava com seus irmãos e eis que viram ao lado da estrada árvores lotadas de passarinhos. Francisco disse a seus companheiros: "aguarde por mim enquanto eu vou pregar aos meus irmãos pássaros". Os pássaros o cercaram, atraídos por sua voz, e nenhum deles voou. Francisco falou a eles:

"Meus irmãos pássaros, vocês devem muito a Deus, por isso devem sempre e em todo lugar dar seu louvor a Ele; porque Ele lhe deu liberdade para voar pelo céu e Ele o vestiu. Vocês nem semeiam nem colhem, e Deus os alimenta e lhes dá rios e fontes para sua sede, montanhas e vales para abrigo e árvores altas para seus ninhos. E embora vocês nem saibam como tecer, Deus os veste e a suas crianças, pois o Criador os ama grandemente e o abençoa abundantemente. Então, semprem busquem louvar a Deus." 
Outra lenda do Fioretti nos fala que na cidade de Gubbio, onde Francisco viveu durante algum tempo, havia um lobo "terrível e feroz, que devorava homens e animais". Francisco teve compaixão pela população local e foi para as colinas achar o lobo. Logo, o medo do animal fez todos os seus companheiros fugirem, mas Francisco continuou e, quando achou o lobo, fez o sinal da cruz e ordenou ao animal para vir até ele e não ferir ninguém. Milagrosamente, o lobo fechou suas mandíbulas e se colocou aos pés de Francisco. "Irmão lobo, você prejudica a muitos nestas paragens e faz um grande mal" disse Francisco. "Todas estas pessoas o acusam e o amaldiçoam. Mas, irmão lobo, eu gostaria de fazer a paz entre você e essas pessoas". Então Francisco conduziu o lobo para a cidade e, cercado pelos cidadãos assustados, fez um pacto entre eles e o lobo. Porque o lobo tinha "feito o mal pela fome", a obrigação da população era alimentar o lobo regularmente e, em retorno, o lobo já não os atacaria ou aos rebanhos deles. Desta maneira Gubbio ficou livre da ameaça do predador.

Também se conta que, quando Francisco agradeceu ao seu burrinho por tê-lo carregado e ajudado durante a vida, o burrinho chorou.

Aventura de amor com Deus

Os primeiros anos da ordem em Santa Maria dos anjos foram um período de treinamento na pobreza e a caridade fraternas. Os frades trabalhavam em seus ofícios e nos campos vizinhos para ganhar o pão de cada dia. Quando não havia trabalhou suficiente, saiam a pedir esmola de porta em porta; mas o fundador lhes havia proibido que aceitassem dinheiro. Estavam sempre prontos a servir a todo o mundo, particularmente aos leprosos. São Francisco insistia em que chamassem aos leprosos "meus irmãos cristãos" e aos enfermos não deixavam de prestar esta profunda delicadeza.




Santa Clara

Santa Clara de Assis (em italiano, Santa Chiara d'Assisi) nascida como Chiara d'Offreducci em Assis (Itália), no dia 16 de Julho de 1194, e falecida em Assis, no dia 11 de Agosto de 1253, foi a fundadora do ramo feminino da Ordem Franciscana.

Segundo a tradição, o seu nome vem de uma inspiração dada à sua religiosa mãe, de que haveria de ter uma filha que iluminaria o mundo.

Pertencia a uma nobre família e era dotada de grande beleza. Destacou-se desde cedo pela sua caridade e respeito para com os pequenos, tanto que, ao deparar-se com a pobreza evangélica vivida por São Francisco de Assis, foi tomada pela irresistível tendência religiosa de segui-lo.

Enfrentando a oposição da família, que pretendia arranjar-lhe um casamento vantajoso, aos dezoito anos Clara abandonou o seu lar para seguir Jesus mais radicalmente. Para isto foi ao encontro de São Francisco de Assis na Porciúncula e fundou o ramo feminino da Ordem Franciscana, também conhecido por "Damas Pobres" ou Clarissas. Viveu na prática e no amor da mais estrita pobreza.



Evangeliza aos maometanos
No outono desse ano, Francisco, não contente com tudo o que havia sofrido e trabalhado pelas almas na Itália, resolveu ir evangelizar aos maometanos.

Assim pois, se embarcou em Ancona com um companheiro rumo a Síria; mas uma tempestade fez naufragar a nave na costa de Dalmacia. Como os frades não tinham dinheiro para prosseguir a viajem se viram obrigados a esconder se furtivamente em um navio para voltar a Ancona. Depois de pregar um ano no centro de Itália, São Francisco decidiu partir novamente a pregar aos maometanos em Marrocos. Mas Deus tinha disposto que não chegasse nunca a seu destino: o santo caiu enfermo na Espanha e, depois, teve que retornar a Itália.

A humildade e Obediência

São Francisco deu a sua ordem o nome de "frades Menores" por humildade, pois queria que seus irmãos fossem os servos de todos e buscassem sempre os lugares mais humildes. Com freqüência exortava a seus companheiros ao trabalho manual e, se bem lhes permitia pedir esmola, lhes tinha proibido que aceitassem dinheiro. Pedir esmola não constituía para ele uma vergonha, era uma maneira de imitar a pobreza de Cristo. O santo não permitia que seus irmãos pregassem em uma diocese sem permissão expressa do Bispo. Entre outras coisas, dispôs que "se algum dos frades se apartava da fé católica em obras ou palavras e não se corrigia, deveria ser expulsado da irmandade". Todas as cidades queriam ter o privilégio de albergar aos novos frades, e as comunidades se multiplicaram na Umbria, Toscana, Lombardia e Ancona.

Cresce a ordem

Se conta que em 1216, Francisco solicitou do Papa Honório III a indulgência da Porciúncula o "perdão de Assis ". No ano seguinte, conheceu em Roma a Santo Domingo, quem havia pregado a fé e a penitência no sul da França na época em que Francisco era "um gentil homem de Assis ". São Francisco tinha também a intenção de ir pregar na França. Mas, como o cardeal Ugolino (quem foi mais tarde Papa com o nome de Gregório IX) lhe dissuadiu disso, enviou em seu lugar aos irmãos Pacifico e Agnelo. Este último havia de introduzir mais tarde a ordem dos frades menores na Inglaterra.

O sábio e bondoso cardeal Ugolino exerceu uma grande influência no desenvolvimento da ordem. Os companheiros de São Francisco eram tão numerosos, que se imponha forçosamente certa forma de organização sistemática e de disciplina comum. Assim pois, se procedeu a dividir a ordem em províncias, a frente de cada uma das quais se pôs um ministro, encarregado do bem espiritual dos irmãos;se algum deles chegasse a perder se pelo mal exemplo de ministro, este teria que responder por ele ante Jesus Cristo".

Os frades haviam cruzado os Alpes e tinham missões na Espanha, Alemanha e Hungria. O primeiro capitulo geral se reuniu na Porciúncula, em Pentecostes do ano de 1217. Em 1219, teve lugar o capitulo "das esteiras", assim chamado pelas cabanas que construíram precipitadamente com esteiras para albergar aos que chegavam. Se conta que se reuniram então cinco mil frades. Francisco lhes insistia em que amassem muitíssimo a Jesus Cristo e a Santa Igreja Católica, e que vivessem com o maior desprendimento possível, e não se cansava de recomendar-lhes que cumprissem o mais exatamente possível tudo o que manda o Santo Evangelho. Recorria campos e povos convidando as pessoas a amar mais a Jesus Cristo, e repetia sempre: 'O Amor não é amado".

As pessoas lhe escutavam com especial carinho e se admiravam muito que seus palavras influíam nos corações para entusiasmá-los por Cristo e sua Verdade. Propuseram que pedisse ao Papa permissão para que os frades pudessem pregar em as todas partes sem autorização do Bispo, Francisco respondeu: "quando os Bispos verem que vives santamente e que não tens intenções de atentar contra sua autoridade, serão os primeiros em pedir que trabalheis pelo bem das almas que lhes tem sido confiadas. Considerai como o maior dos privilégios o de não gozar de privilégio algum..." ao terminar o capitulo, São Francisco enviou alguns frades a primeira missão entre os infiéis de Túnis e Marrocos e se reservou para si a missão entre os sarracenos do Egito e Síria. Em 1215, durante o Concílio de Letram, o Papa Inocêncio III havia pregado uma nova cruzada, mas tal cruzada se havia reduzido simplesmente a reforça o Reino Latino do Oriente. Francisco queria empunhar a espada de Deus. São Francisco, foi a terra Santa a visitar em devota peregrinação os Santos Lugares donde Jesus nasceu, viveu e morreu: Belém, Nazaré, Jerusalém, etc. Em lembrança desta piedosa visita sua, os franciscanos estão encarregados desde séculos de custodiar os Santos Lugares da Terra Santa.

Missionário ante o Sultão

Em junho de 1219, embarcou em Ancona com doze frades. O navio os conduziu a desembocadura do Nilo. Os cruzados haviam posto sítio a cidade, e Francisco sofreu muito ao ver o egoísmo e os costumes dissolutos dos soldados da cruz. Consumido pelo zelo da salvação dos sarracenos, decidiu passar ao campo do inimigo, por mais que os cruzados lhe dissessem que a cabeça dos cristãos estavam postas a prêmio. Havendo conseguido a autorização, Francisco e o irmão Iluminado se aproximaram ao campo inimigo, gritando: " Sultão, sultão!" quando os conduziram a presença de Malek-al-Kamil, Francisco declarou ousadamente. "Não são os homens quem me tem enviado, mas sim Deus todo poderoso. Venho a mostrar, a ti e a teu povo, o caminho da salvação; venho a anunciar as verdades do Evangelho."

O sultão ficou impressionado e rogou a Francisco que permanecesse com ele. O santo replicou: "Se vós e teu povo estais dispostos a ouvir a palavra de Deus, com gosto estarei com vocês. E se todavia vacilais entre Cristo e Maomé, manda acender uma fogueira. Eu entrarei nela com vossos sacerdotes e assim vereis qual é a verdadeira fé. O sultão contestou que provavelmente ninguém dos sacerdotes queria entrar na fogueira e que não podia submete-los a essa prova para não sublevar o povo. Contam que o Sultão chegou a dizer: "se todos os cristãos fosse como ele, então valeria a pena ser cristão".

Mas o sultão, Malek-al-Kamil, mandou que Francisco voltasse ao campo dos cristãos. Desalentado ao ver o reduzido êxito de sua pregação entre os sarracenos e entre os cristãos, o santo passou a visitar os Santos Lugares. Ali recebeu uma carta na qual seus irmãos lhe pediam urgentemente que retornasse a Itália.

A crises de acomodamento leva a clarificar a regra

Durante a ausência de Francisco, seus dois vigários, Mateo de Narnem e gregório de Nápoles, haviam introduzido certas inovações que pretendia uniformizar os frades menores com as outras ordens religiosas e a enquadrar o espírito franciscano no rígido esquema da observância monástica e das regras ascéticas.

As religiosas de São Damião tinham uma constituição própria, relatada pelo cardeal Ugolino sobre a base da regra de São Bento. Ao chegar a Bolonha, Francisco teve a desagradável surpresa de encontrar a seus irmãos hospedados em um esplêndido convento. O santo se negou a por os pés nele e viveu com os frades pregadores. Em seguida mandou chamar ao guardião do convento franciscano, lhe repreendeu severamente e lhe ordenou que os frades abandonassem a casa. Tais acontecimentos tinham aos olhos do santo as proporções de uma verdadeira traição: se tratava de uma crise da qual teria que sair a ordem sublimada ou destruída. São Francisco se trasladou a Roma onde conseguiu que Honório III nomeasse o cardeal Ugolino protetor e conselheiro dos franciscanos, pois ele havia depositado uma fé cega no fundador e possuía uma grande experiência nos assuntos da Igreja. Ao mesmo tempo, Francisco se entregou ardentemente a tarefa de revisar a regra, para o que convocou a um novo capitulo geral que se reuniu na Porciúncula em 1221.

O santo apresentou aos de longe a regra revisada. O que se referia a pobreza, a humildade e a liberdade evangélica, característica da ordem, ficava intacto. Ele constituía uma espécie de direito de fundador aos dissidentes e legalistas que, escondidos tramavam uma verdadeira revolução do espírito franciscano. O chefe da oposição era o irmão Elias de Cortona. O fundador havia renunciado a direção da ordem, de sorte que seu vigário, frei Elias, era praticamente o ministro geral. Sem dúvida, não se atreveu a opor-se ao fundador, a quem respeitava sinceramente.

Na realidade, a ordem era demasiado grande, como o disse o próprio São Francisco: "Se tivesse menos frades menores, o mundo os veria menos e desejaria que fossem mais". Ao fim de dois anos, durante os quais houve de lutar contra a corrente cada vez mais forte que pretendia modificar a ordem em uma direção que ele não havia previsto e que lhe parecia comprometer o espírito franciscano, o santo empreendeu uma nova revisão da regra.

Depois a comunicou ao irmão Elias para que este a passasse aos ministros, mas o documento se extraviou e o santo houve de ditar novamente a revisão ao irmão Leão, em meio ao clamor dos frades que afirmavam que a proibição de possuir bens em comum era impraticável.

A regra, tal como foi aprovada por Honório III em 1223, representava substancialmente o espírito e o modo de vida pelo qual havia lutado São Francisco desde o momento em que se despojou de suas ricas vestes ante o Bispo de Assis.

A Terceira Ordem

Uns dois anos antes São Francisco e o cardeal Ugolino haviam relatado uma regra para a confraria de leigos que se haviam associado aos frades menores e que correspondia ao que atualmente chamamos terceira ordem, fincada no espírito da "Carta a todos os cristãos ", que Francisco havia escrito nos primeiros anos de sua conversão.

Aqueles que eram casados ou tinham suas ocupações no mundo e não podiam ser frades ou irmãs religiosas, mas queriam seguir os ideais de Francisco, não ficaram na mão: por volta de 1220, Francisco deu início à Ordem Terceira Secular para homens e mulheres, casados ou não, que continuavam em suas atividades na sociedade, vivendo o Evangelho. A confraria, formada por leigos entregados a penitência, que levavam uma vida muito diferente da que se acostumava então, chegou a ser uma grande força religiosa na idade Media. Muitos grandes personagens — como São Luís, Rei de França, e Santa Isabel, Duquesa da Turíngia — a ela pertenceram.

No direito canônico atual, os terciários das diversas ordens gozam, todavia de um estatuto especificamente diferente da dos membros das confrarias e congregações marianas. A representação de Nascimento de Jesus

São Francisco passou o Natal de 1223 em Grecehio, no vale de Rieti. Em tal ocasião, havia dito a seu amigo, João da Velita- "Quisera fazer uma espécie de representação vivente do nascimento de Jesus em Belém, para presenciar, por dizer assim, com os olhos do corpo a humildade da Encarnação e vê-lo recostado no casebre entre o boi e o burrinho". Em efeito, o santo construiu então na ermita uma espécie de cova e os camponeses dos arredores assistiram a Missa da meia noite, na qual Francisco atuou como diácono e pregou sobre o mistério do Natal. Lhe atribui ter começado naquela ocasião a tradição de "Belém" o "nascimento ".

Nos disse Tomas Celano em sua biografia do santo: "A Encarnação era um componente chave na espiritualidade de Francisco. Queria celebrar a Encarnação de forma especial. Queria fazer algo que ajudasse a gente a recordar ao Cristo menino e como nasceu em Belém". São Francisco permaneceu vários meses no retiro de Grecehio, consagrado a oração, mas ocultou zelosamente aos olhos dos homens as graças especialíssimas que Deus lhe comunicou na contemplação.

O irmão Leon, que era seu secretário e confessor, afirmou que lhe havia visto várias vezes durante a oração elevar-se tão alto sobre o solo, que apenas podia alcançar-lhe os pés e, em certas ocasiões, nem sequer isso.

Os Estigmas
Dois anos antes de sua morte, tendo Francisco ido ao Monte Alverne em companhia de alguns de seus frades mais íntimos, pôs-se em oração fervorosa e foi objeto de uma graça insigne. Na figura de um serafim de seis asas apareceu-lhe Nosso Senhor crucificado que, depois de entreter-se com ele em doce colóquio, partiu deixando-lhe impressos no corpo os sagrados estigmas da Paixão. Assim, esse discípulo de Cristo, que tanto desejara assemelhar-se a Ele, obteve mais este traço de similitude com o Divino Salvador. Francisco tratou de ocultar aos olhos dos homens os sinais da paixão de Senhor que tinha impressas no corpo; Por ele, a partir de então levava sempre as mãos dentro das mangas do hábito e usava meias e sapatos. Sem dúvida, desejando o conselho de seus irmãos, comunicou o sucedido ao irmão Iluminado e alguns outros, mas escondeu que lhe haviam sido reveladas certas coisas que jamais descobriria homem algum sobre a terra.

Em certa ocasião em que se achava enfermo, alguém propôs que se lhe lesse um livro para distrair. O santo respondeu: "Nada me ajudai tanto como a contemplação da vida e paixão do Senhor. Ainda que tivesse que viver até o fim de mundo, com somente esse livro me bastaria. Francisco havia se enamorado da santa pobreza enquanto contemplava a Cristo crucificado e meditava na nova crucificação que sofria na pessoa dos pobres. O santo não desapreciava a ciência, mas não a desejava para seus discípulos. Os estudos apenas tinham razão de ser para Deus como um fim e apenas podiam aproveitar aos frades menores, se não lhes impe dizem de consagrar a oração um tempo.

Francisco se aborrecia dos estudos que alimentavam mais a vaidade que a piedade, porque impediam a caridade e secavam o coração. Sobre todo, temia que a senhora ciência se convertesse em rival da dama Pobreza. Vendo com quanta ansiedade que acudiam as escolas e buscavam os livros seus irmãos, Francisco exclamou em certa ocasião: "Impulsionados pelo mal espírito, meus pobres irmãos acabaram por abandonar o caminho da sensatez e da pobreza". Antes de sair de Monte Alvernia, o santo compôs o "Hino de adoração ao Altíssimo ". Pouco depois da festa de São Miguel desceu finalmente ao vale, marcado pelos estigmas da paixão e curou aos enfermos que saíram atrás dele.

Logo após receber as chagas, Francisco ficou muito doente, e no ano seguinte ficou cego. Sofreu muito com as formas primitivas de cirurgias e tratamentos medievais, mas foi por esta época que ele escreveu seus mais belos textos - sendo considerado por muitos o primeiro poeta italiano - deixando registrado seu amor universal em lindos versos (assim como os sufis o fazem), como o O cântico do Sol (também conhecido como "Cântico das criaturas"), escrito em companhia de sua alma gêmea, Clara, em São Damião, por volta de 1224/1225, quando já sofria muitas dores e estava quase cego. A estrofe que fala da paz foi acrescentada um mês depois, a fim de reconciliar o bispo e o prefeito de Assis, que estavam em discórdia. Francisco defendia que o povo devia poder rezar a Deus em sua própria língua, por isso ele escreveu sempre no dialeto da Umbria, ao invés de Latim.

Agradeço a Sergio Scabia pela oportunidade de ler o Cântico numa tradução quase literal, sem o floreio encontrado nas versões em português:
                      O Cântico do Sol

Altíssimo, todo-poderoso bom Senhor
Seus são os louros, a gloria, a honra e todas as bênçãos
Somente a Ti são reservadas
e homem algum é digno de te mencionar

Louvado seja, meu Senhor, com todas suas criaturas
principalmente com o senhor irmão sol,
que é dia e ilumina por isso.
E ele é belo irradiando imenso esplendor;
de ti, traz o significado.

Louvado seja, meu Senhor, pelas irmãs lua e estrelas,
que no céu criaste claras, preciosas e belas

Louvado seja, meu Senhor, pelo irmão vento
e pelo ar e as nuvens e o céu azul e para qualquer tempo,
pelos quais às tuas criaturas fornece alimento.

Louvado seja, meu Senhor, pela irmã água,
a qual é muito útil e humilde e preciosa e pura.

Louvado seja, meu Senhor, pelo irmão fogo,
pelo qual iluminas as noites,
e ele é belo, brincalhão, robusto e forte.

Louvado seja, meu Senhor, pela irmã nossa mãe terra,
que nos sustenta e governa,
e produz diversos frutos, com flores coloridas e grama.

Louvado seja, meu Senhor, por aqueles que perdoam pelo seu amor,
e suportam infinitas tribulações.
Abençoados os que as suportarão em paz,
que por ti, Altíssimo, serão coroados.

Louvado seja, meu Senhor, pela irmã morte corporal,
à qual nenhum homem vivo pode escapar

Ai dos que morrerão em pecado mortal;
abençoados aqueles que se encontrarão nas tuas santíssimas vontades,
que a segunda morte não lhes fará mal

Louvem e abençoem o meu Senhor,
e agradeçam e sirvam-no com grande humildade


Uma oração que sempre me impressionou pela beleza e singeleza foi a Oração da Paz, atribuída a São Francisco de Assis e comumente denominada de "Oração de São Francisco". Na verdade trata-se de uma oração anônima, escrita em 1912, tendo aparecido inicialmente num boletim paroquial na Normandia (França), e em menos de dois anos foi impressa em Roma numa folha onde, no verso, estava impresso uma figura de São Francisco; por isto e pelo fato de que o texto reflete muito bem o franciscanismo, esta oração começou a ser divulgada como se fosse de autoria do santo.


Senhor,
Fazei de mim um instrumento de vossa paz!
Onde houver ódio, que eu leve o amor,
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvida, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz!

Ó Mestre,
fazei que eu procure mais.
Consolar, que ser consolado.
Compreender, que ser compreendido.
Amar, que ser amado.
Pois é dando, que se recebe.
Perdoando, que se é perdoado e
é morrendo, que se vive para a vida eterna! 


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